setembro amarelo

VÍDEO: no Setembro Amarelo, profissionais e santa-marienses relatam ressignificação da vida

Luisa Neves e Carmen Staggemeier Xavier

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário)

"Ela me trouxe esperança e vontade de recomeçar"


Sempre que a acadêmica de Engenharia Civil Mariana Dutra de Almeida está com a irmãzinha de 2 anos, ela compreende o quanto a vida pode ter novos significados, mesmo após momentos traumáticos. Em 2019, ela enfrentou a dor de uma depressão. A dificuldade de adaptação no curso foi o gatilho, como ela diz, para crises advindas de uma ansiedade que a sufocava por muitos anos.

- Eu tinha uma dor que insistia em me dizer que eu deveria desistir de tudo. Eu não queria morrer, sabe, mas não queria seguir em frente. Meu rendimento na faculdade não era o que eu esperava. Eu me frustrava por achar que decepcionava os outros. Não via expectativas em nada. E sabe o que é pior? Para quem está de fora, uma jovem "saudável" e que não passava necessidades não tem motivos para não estar bem. A depressão não pede motivos, não escolhe hora, apenas judia da gente - conta ela.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Descobrir os fatores que levam à depressão foi fundamental no tratamento de Mariana (foto) e de Ricardo. Para eles, ressignificar é contar com uma rede de apoios e dar uma nova chance a si mesmo

Depois de uma atitude de desespero, Mariana chegou a ficar dois dias em coma. Com o apoio da família e dos amigos, ela passou a ser acompanhada por profissionais de saúde e, no ambiente de trabalho, ganhou um apoio que tem feito muita diferença nessa ressignificação da vida.

- A gente não tenta contra si mesmo de uma hora para outra. Começamos a nos automutilar aos poucos, até ter certeza que chegou o momento de acabar com uma dor insuportável. Familiares e amigos precisam dar atenção ao isolamento e a mudanças bruscas de comportamento dos jovens. Na maioria das vezes, são pedidos de socorro, ainda que inconscientemente. A chegada na universidade é difícil, é dolorosa para muitos de nós. Passar em um curso bom não é tudo. Aliás, nem todos têm noção do que realmente irão enfrentar, como aconteceu comigo - desabafa ela.

PARA PROSSEGUIR
O afeto de outros jovens em um evento na Praça Saldanha Marinho ressignificou essa trajetória. Para Mariana, que, até então, toda e qualquer manifestação de carinho era uma invasão, aquela noite foi o primeiro sinal de cura:

- Já em casa, mesmo sob tratamento e cuidado, saí chorando na rua, era uma crise de desespero, a dor de novo? Então, ouvi uma música. Um grupo de jovens cantava, enquanto alguém tocava um violão. Aquele som me atraiu. Quando me aproximei, uma jovem me integrou aos outros. Lembro que, mesmo com uma deficiência física, ela demonstrava alegria e paz.

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Mariana, agora, faz parte de um grupo que ajuda outras pessoas, está feliz no curso, tem um trabalho que adora e uma irmã que a encanta:

 - Meus novos amigos me convidaram para uma palestra sobre depressão na igreja deles, e foi maravilhoso. Além do mais, hoje tenho motivo para continuar. A chegada da minha irmãzinha foi o meu renascimento. Aprendi que meu maior inimigo estava dentro de mim. Agora, meus dias estão ressignificados. Sem a minha família e amigos e sem a ajuda de Deus, eu não teria chegado até aqui. Conto isso para ajudar outros jovens - conclui a estudante.

"A vida é um presente. Precisamos agradecer todos os dias"
O bancário Ricardo, 43 anos, enfrentou sintomas como insônia, irritabilidade, tristeza e um sentimento de vazio, também decorrentes da depressão, em um período que ele define como "turbulento". Em meio a uma série de adversidades, Ricardo chegou a pensar em desistir da vida. No entanto, decidiu dar-se uma chance e, assim, prosseguiu em uma jornada em favor de si mesmo. Sem negligenciar tratamento médico e psicológico, Ricardo compreendeu que a ajuda mais significativa para não desistir de tudo teria que vir de dentro:

- Decidi fazer o possível para não me entregar aos sofrimento. Além de manter o acompanhamento psicológico, procurei, inicialmente, forças na fé. Por um tempo, frequentei a capela Schoenstatt, e, aos poucos, busquei alternativas, como a terapia holística e a massagem Reiki.

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Hoje, além do autocuidado, Ricardo prepara-se para ser um psicólogo. Para ele, ressignificar a dor e a ansiedade que levam à depressão é ajudar os outros a vencer tais situações. E, sempre que pode, o acadêmico fala sobre o assunto para colaborar com quem passa por momentos difíceis.

- Não abandonei a psiquiatria, mas reduzi as medicações. Espero, um dia, ficar livre delas e permanecer com as terapias alternativas. A depressão é uma doença muito séria, mas, com persistência, conseguimos vencê-la. Não podemos desistir! O primeiro passo é se conhecer, se descobrir, ou seja, buscar ajuda dentro da gente - reforça.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Renan Mattos (Diário)
Zípora lembra com alegria a trajetória do pai que superou circunstância e cuidou de outros

"Meu pai se refez em meio ao improvável"
Contar a trajetória do pai, Paulo de Oliveira, é a missão da secretária Zípora de Oliveira Campos Nunes, 29 anos. Ela acompanhou a dedicação dele à recuperação de jovens em situação de risco e vulnerabilidade social. Mais do que isso, aprendeu com ele que, apesar da dor, sempre há esperança.

Entre os nove filhos de um militar e uma dona de casa do interior do Rio Grande do Sul, os três mais velhos eram os mais "chegados". No entanto, essa parceria tornou-se uma história de criminalidade e drogadição.

- Meu tio mais velho tirou a vida depois de ser surpreendido com drogas. Ele havia passado no vestibular para medicina e prestava serviço militar. Tinha um belo futuro pela frente. Essa perda fez com que o outro irmão dele fizesse o mesmo. Então, meu pai, mergulhado na tristeza e nas drogas, tornou-se muito agressivo - conta Zípora.

Em uma atitude de desespero, o avô de Zípora denunciou o filho à polícia. Preferia vê-lo preso a viver outra perda. Na prisão, uma série de "correções", decorrentes do mau comportamento quase o levaram à morte.

- Minha avó sofria muito. Talvez, meu avô tenha feito isso para protegê-la. Quando meu pai quase matou outro preso por ter usado a droga dele, foi espancado, levado à "cela morcego", e preso a uma latrina, como contava. Sem expectativas devido à morte dos irmãos, só pensava em acabar com tudo e consigo mesmo - diz a filha.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Renan Mattos (Diário)

ESPERANÇA
Naquele Dia das Mães dos anos 1980, Paulo ouvia de longe o movimento das visitas. As dores no corpo e o mau cheiro haviam lhe tirado qualquer perspectiva, até que algo aconteceu:

- Uma senhora jogou-lhe um pequeno livro por entre as grades. Era um Novo Testamento, distribuído pelos Gideões Missionários. As páginas molharam de urina, mesmo assim, ele conseguiu ler: "ainda que o meu pai e a minha mãe me abandonem, o Senhor cuidará de mim". Naquele instante, meu pai lembrou da infância, junto aos pais e irmãos. Então, em um ato de coragem, escreveu uma carta ao juiz. Contou a história dos irmãos e pediu uma chance de recomeçar. Atendido, foi levado para o hospital, teve as feridas tratadas e foi solto. Mas o meu avô, que morava em Cruz Alta, não quis recebê-lo em casa. Sozinho mais uma vez, bateu na porta de uma igreja e foi acolhido por um senhor que cuidava de jovens nas mesmas condições dele. Aquela pessoa o alimentou, medicou e instruiu. De novo, o amor de Deus se revelou a ele. Meu pai se dizia um "sobrevivente".

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Renan Mattos (Diário)

DO OUTRO LADO
Zípora se emociona ao lembrar dos relatos do pai. Para ele, tirar as pessoas do "esgoto" era retribuir a chance que teve. Paulo trabalhou por muitos anos em centros de reabilitação, tornou-se um dos gideões missionários e chegou a passar em primeiro lugar em um concurso para a polícia estadual no Mato Grosso. Assim, de prisioneiro, tornou-se policial. Em 2012, ele faleceu, devido a complicações da diabetes.

- Há solução para os nossos problemas. Meu pai poderia ter um fim igual ao dos meus tios. Mas não. Ele foi alcançado por uma palavra de esperança e constituiu família. Precisamos de um propósito, de alguém por quem lutar. A vida é uma escolha diária. Tem vários caminhos na sua frente. Acredite. Como meu pai ressignificou a história dele a partir de uma palavra de vida, hoje estou aqui para dar continuidade a esse legado e dizer que há solução - diz ela.

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NOVO SENTIDO PARA A VIDA
Especialista em psicologia cognitiva comportamental, o psicólogo Carlos Eduardo Seixas explica que a ressignificação é um dos processos de um tratamento psicoterápico:

- É um trabalho de reestruturação do indivíduo. A pessoa chega com uma estrutura que, na maioria das vezes, precisa ser reconstruída para haver uma reestruturação. Ressignificação é dar novo sentido à vida, trabalhando aspectos do passado e com projeções. Isso está condicionado a três pilares: respeito à história de vida da pessoa, o processo de aceitação e perspectiva, ou seja, um novo foco com ênfase no presente para o futuro.


Conforme o especialista, a maioria das crenças são absorvidas na infância, quando não se tem maturidade para flexibilizar os aprendizados.

- Não nascemos como somos hoje. Nos tornamos o que aprendemos ao longo da nossa história, e quando nos aceitamos, tendemos a ser mais justos com nós mesmos. Respeite a sua história - diz.

REVIVENCIAR
Ainda de acordo com Seixas, ressignificar não é fazer de conta que nada aconteceu, é reelaborar vivências e, a partir disso, dispor-se a mudar o presente e elaborar o futuro: 

- Alguns se reestabelecem com novas atividades, como trabalhos voluntários, mudança de emprego, um novo relacionamento ou na chegada de um filho. Ressignificar com os próprios valores é ter um propósito pelo qual seguir em frente. Crenças particulares e busca por espiritualidades possibilitam, também, formas de apoio.

DEPRESSÃO
A depressão é uma doença séria, que requer cuidado, desde a prevenção, ao diagnóstico e tratamento. Identificar e tratar leva tempo. Neste cenário, a terapia é fundamental
para levar o indivíduo ao autoconhecimento, à autonomia e à autoeficácia.

- O objetivo da terapia é aperfeiçoar o paciente, mostrando-lhe seus limites e capacidades dele. Por vezes, a abordagem medicamentosa é indicada no tratamento. A depressão não tratada pode levar a uma dor difícil de suportar. Ao tentar o suicídio, a pessoa não quer morrer, mas quer se livrar desta dor para resolver o problema. O suicídio advém de uma depressão grave, e isso é diferente de momentos de tristeza. Esses são aliviados conforme as circunstâncias, enquanto que a depressão é uma tristeza generalizada, na qual se tem uma péssima visão de si, perspectiva de vida abreviada, desesperança e falta de planos - alerta o especialista.

ISOLAMENTO SOCIAL

Estar sozinho tende a ser complicado, conforme Seixas, para quem sofre de depressão. Ele recomenda que se avalie a rede de apoio em volta da pessoa, e isso significa não a quantidade, mas a qualidade de familiares, colegas ou amigos que possam contribuir com essa melhora.

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- São aqueles que abraçam, inspiram confiança e respeitam a história de quem está doente. Fadiga, cansaço, excesso ou falta de sono, distanciamento, perda de capacidade de exercer funções, problemas de relacionamento e falta de perspectiva devem ser observados. Geralmente, a pessoa que está com esse sofrimento pode não querer preocupar os outros, escondem emoções e tendem a se afastar - alerta Seixas.

Promover a vida: precisamos falar mais sobre isso
Conforme a psicóloga Viviana Martini Dias, o preconceito é um dos problemas enfrentados por quem sofre os sintomas da depressão:

- Infelizmente, vivemos em uma sociedade julgadora, e quem julga não acolhe. Desprezar e desqualificar o relato do deprimido é um erro. Frases como "depressão é falta de ocupação" exprimem juízos de valor e são, infelizmente, muito comuns. Outras, como "essa pessoa tem a vida boa demais para sofrer", "para postar foto não está deprimida, mas para faltar ao trabalho está", são destrutivas e criam um enorme distanciamento do problema real.

Para a Viviana, embora já se tenha mais informações a respeito desse problema, ainda falta empatia.

- Depressão não é apenas tristeza. Entre os sintomas, estão situações que expressam raiva e violência. O paciente não fica deprimido o tempo todo, mas em episódios. Há, ainda, a premissa "se eu não vejo a dor, ela não existe". No entanto, fatores biológicos contradizem essa afirmação - explica ela.

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É preciso compreender, de acordo com a psicóloga, que o tratamento pode demorar. Além do mais, requer-se conhecimento de que passeios, risadas e mesmo a companhia da família e amigos não significam cura necessariamente:

- Embora demonstre felicidade, a pessoa pode estar sofrendo. Acolhimento é fundamental, mas há outras resistências a serem vencidas. Percebemos isso com a reação dos pacientes ao mencionarmos a possibilidade do tratamento psiquiátrico.

Com experiência em atendimento familiar e terapia com casais, Viviana lembra que pessoas próximas do paciente também são afetados pela doença.

- Não se pode negligenciar a dor de quem está à volta. O quadro de um membro traz impotência para todos os outros, que passam a buscar fórmulas mágicas para a cura. Uma boa alternativa é a terapia familiar - recomenda a profissional.

Juntos por uma causa maior: valorizar o cuidado mútuo
Segundo a coordenadora do Comitê Estadual de Promoção da Vida e Prevenção do Suicídio, da Secretaria Estadual da Saúde, Andréia Volkmer, não existem evidências de que os índices de suicídio tenham aumentado no Rio Grande do Sul no último ano. Para ela, mais importante do que números, neste momento, é dar atenção a tudo o que promove a vida e a saúde.

Nesta perspectiva, a campanha estadual de 2020 tem como tema principal "Mês da Promoção da Vida".

- Enfrentamos essa triste realidade em nosso Estado também, mas, se unirmos forças, podemos ajudar as pessoas a vencerem as circunstâncias que as levariam a essa decisão - diz Andréia.

POR QUE FALAR?
Conforme o médico psiquiatra Iron Pedro Giacomelli, 30 anos, estudos apontam que, antes de desistir de viver, a maioria das pessoas procura ajuda de familiares, amigos ou profissionais. Nestes momentos, elas precisam ser orientadas a iniciar um tratamento médico. 

- Muitos acreditam que não se deve perguntar para alguém se ele pensa em suicídio. Existe o medo que tal questionamento possa "estar dando "ideias". Mas é justamente o contrário. Falar sobre o assunto gera alívio, porque deixa de ser algo que está apenas no pensamento da pessoa, assustando-a, para, então, tornar-se algo a ser debatido e enfrentado junto - esclarece Giacomelli.

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Para o médico, ter alguém que se importa e quer ajudar, já é terapêutico no tratamento da depressão.

MEDICAÇÃO
Ainda segundo Giacomelli, o tratamento depende da doença que origina os pensamentos de morte. As medicações, chamadas psicofármacos, também ajudam muito.

- Uma dúvida frequente dos pacientes é em relação à possibilidade de se tornarem dependentes da medicação. Na prática, os remédios mais comumente utilizadas, como os antidepressivos, não causam dependência e, conforme a pessoa se encontra, podem ser retirados. No entanto, a decisão sempre deve ser tomada junto ao psiquiatra. Interromper o tratamento sem orientação médica gera um imenso risco - alerta o médico psiquiatra.

Informação é necessário
A prevenção da vida merece atenção em todo o tempo. Confira, abaixo o que é mito ou verdade a respeito do suicídio, conforme a Associação Brasileira de Psiquiatria:

  • Mito - Desistir da vida é uma decisão individual, já que cada um tem pleno direito a exercitar o livre arbítrio
  • Verdade - Os suicidas estão passando quase invariavelmente por uma doença mental que altera, de forma radical, a percepção da realidade e interfere no livre arbítrio. O tratamento eficaz da doença mental é o pilar mais importante da prevenção. Após o tratamento, o desejo de se matar desaparece
  • Mito - A intenção de se matar segue a pessoa para o resto da vida
  • Verdade - A pessoa que tentou o suicídio pode ser eficazmente tratada e, após isso, não estar mais em risco
  • Mito - As pessoas que ameaçam se matar não o fazem, querem apenas chamar a atenção
  • Verdade - A maioria fala ou dá sinais. Boa parte dos suicidas expressou, em dias ou semanas anteriores, a profissionais de saúde, o desejo de se matar
  • Mito - A pessoa estava deprimida a ponto de não querer mais viver. Se em outro instante, sentiu-se melhor, significa que o problema já passou
  • Verdade - Se alguém que pensava em suicidar-se e, de repente, parece tranquilo, aliviado, não significa que o problema já passou. Essa pessoa pode sentir-se "melhor" ou aliviada simplesmente por ter tomado a decisão de se matar
  • Mito - Quando um indivíduo mostra sinais de melhora ou sobrevive à uma tentativa de suicídio, está fora de perigo  
  • Verdade - Um dos períodos mais perigosos para a pessoa neste estágio é quando se está melhorando da crise, ou ainda, no hospital, devido a uma tentativa. A semana seguinte à alta do hospital deve ser de muito cuidado. É neste período que a pessoa está particularmente fragilizada. Como um preditor do comportamento futuro é o estágio passado, o paciente suicida, muitas vezes, continua em alto risco
  • Mito - Não devemos falar a respeito de suicídio. Trazer o assunto à tona pode aumentar o risco
  • Verdade - Falar sobre este grave problema não aumenta o risco. Muito pelo contrário. Mencionar o assunto pode aliviar a angústia e a tensão que esses pensamentos trazem. Lembre-se: compartilhar uma dor ajuda muito
  • Mito - É proibido que a mídia aborde o tema suicídio
  • Verdade - A mídia tem obrigação social de tratar desse importante assunto de saúde pública, sempre com cuidado para abordar o tema de forma adequada. Esclarecer e informar não aumentou o risco de uma pessoa se matar. Ao contrário, é fundamental dar informações à população sobre o problema, além de mostrar ações, locais e telefones para a pessoa buscar ajuda

Redes de apoio

Em Santa Maria, conforme dados da prefeitura, de janeiro a agosto de 2020, foram registrados 148 ações de violência auto provocada e 23 mortes por suicídio, três delas de mulheres e 20 de homens. Para ajudar a diminuir esses índices, durante todo o ano e, em especial neste Setembro Amarelo, várias iniciativas voltadas à discussão e à conscientização do valor e da preservação da vida são realizadas. Confira, abaixo, como acompanhar:

AGENDE-SE

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Imagem: divulgação

O que te produz vida?

  • O quê - Programação das Estratégias Saúde da Família (ESF), online e presenciais, com vídeos, lives e exposição de obras artísticas
  • Para quem - Aberto à comunidade
  • Quando - Todas as quartas-feiras de setembro
  • Onde - Na página facebook.com/oqueteproduzvida e exposições na ESF Maringá (dia 9) e ESF São Francisco (dia 23)

7º Encontro Regional de Promoção da Vida e Prevenção do Suicídio

  • O que - O Fórum Permanente de Saúde Mental e o Projeto de Extensão Promoção da Vida e Prevenção do Suicídio, da UFSM, promovem o evento online, com transmissões ao vivo, com especialistas
  • Para quem - Aberto à comunidade, tendo como público alvo profissionais da segurança pública, saúde e educação
  • Quando - Em 11, 18 e 25 de setembro, das 9h às 11h
  • Onde - Inscrições pelo link bit.ly/promocaodavida

13 Razões para Viver

  • O quê - Durante todo o mês de setembro, a Igreja Batista Lagoinha, de Santa Maria, está realizando uma série de vídeos com o tema 13 Razões para Viver
  • Para quem - Aberto à comunidade
  • Quando - Às segundas, quartas e sextas-feiras, ao meio-dia
  • Onde - Na página facebook.com/LagoinhaSM/


Fatores de risco

De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), há dois principais fatores de risco de suicídio. Um deles é a tentativa prévia, e o segundo, e principal, refere-se à doença mental. Veja, abaixo, os sinais a serem observados. Lembre-se: informação pode salvar vidas.

  • Doenças mentais - Depressão, transtornos bipolar e de personalidade, transtornos mentais relacionados ao uso de álcool e outras substâncias, esquizofrenia, entre outros 
  • Aspectos sociais - Como de gênero masculino solitário, bem como populações especiais, entre elas, pessoas em situação de rua
  • Aspectos psicológicos - Como perdas recentes, dificuldade de resiliência, personalidade impulsiva, ter sofrido abuso físico ou sexual na infância, desesperança e desamparo
  • Condição de saúde limitante - Pessoas com doenças orgânicas incapacitantes, dor crônica, doenças neurológicas, trauma medular, tumores malignos e AIDS

*Fonte: Cartilha "Suicídio: informando para prevenir", da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), de 2014


Treinamento é fundamental para salvar vidas

Em tempos de pandemia, distanciamento social e novos desafios impostos que afetam diretamente a saúde mental, uma pergunta surge: como agir diante de uma situação de risco? Recentemente, dois jovens protagonizaram um resgate em Santa Maria que foi filmado, e cujo vídeo circulou pelas redes sociais. A ação foi bem sucedida pelo simples fato de que ambos são salva vidas civis e receberam treinamento do Corpo de Bombeiros. Em agosto deste ano, Lucas Silveira, 20 anos, e Adrian Mikael Castro, 19, trafegavam pela Rua Euclides da Cunha, no Bairro Itararé, quando encontraram uma pessoa em situação de risco.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: arquivo pessoal
Lucas (à esq.) e Adrian falam da importância do preparo

- Estávamos passando pelo local quando nos deparamos com aquela situação. Em um primeiro momento, acionamos o resgate e, em seguida, começamos a agir.

Eu e meu colega atuamos como guarda vidas civil, mas todos os outros salvamentos foram em situações muito diferente, pois a vítima queria ser salva. Nesse dia, porém, foi o contrário, pois a pessoa não queria ajuda - recorda Silveira.

O jovem destaca que, ao presenciar uma situação semelhante, a pessoa que não possui treinamento e não conhece técnicas de abordagem deve acionar equipes especializadas.

- O risco é existente até para profissionais de salvamento, pois tudo pode acontecer. Mesmo com treinamento e técnica, temos que analisar a vítima para saber qual atitude tomar. No nosso caso, não tínhamos tempo para aguardar, pois, caso não tivéssemos agido na hora certa, poderia ser uma vida a menos - avalia o guarda-vidas civil.

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Silveira e Castro destacam a importância de investimentos em capacitações, tanto para profissionais quanto para a população. Os jovens acreditam que os primeiros socorros deveriam ser desenvolvidos dentro das instituições de ensinos, pois ter noções básicas pode ajudar muitas pessoas.

Ao identificar ou desconfiar que alguém esteja em situação de risco, a orientação dos salva vidas é acionar os órgãos responsáveis, como Bombeiros e Brigada Militar.

- E, caso não tiver treinamento adequado, aguardar a chegada dos profissionais, pois uma atitude errada poder ter um desfecho não satisfatório, tanto para a vítima quanto para a pessoa que for efetuar o resgate - reforça Lucas Silveira.

ONDE PROCURAR AJUDA

Centro de Valorização da Vida (CVV)

O CVV é um serviço de emergência que presta apoio emocional pelo telefone 188, 24 horas, de forma gratuita. Pela internet, o centro oferece, ainda, a possibilidade de atendimento via chat, em que voluntários treinados interagem com internautas, por meio do site cvv.org.br

  • Para quem? Para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo
  • Como acessar? Pelo telefone 188. Mais informações podem ser obtidas pelo [email protected]


Pronto-Atendimento (PA) do Patronato

Unidade tem psiquiatra de plantão das 7h30min às 19h, de segunda-feira a domingo. Primeiro, o paciente recebe atendimento de um clínico geral. Em seguida, é encaminhado para um psiquiatra

  • Para quem? Para todas as pessoas que querem e precisam conversar
  • Como acessar? Na Avenida Jornalista Maurício Sirotsky Sobrinho, 70, Bairro Patronato). Mais informações pelo telefone (55) 3223-9927

UPA

Faz só atendimentos emergenciais de pessoas trazidas pelo Samu. A equipe de enfermagem e médico clínico geral de plantão fazem o primeiro atendimento.

  • Para quem? Pessoas em surto psicótico.
  • Como acessar? Acionar o Samu, pelo 192


Centros de Atenção Psicossocial (Caps)

Os Caps são responsáveis por atendimentos a diferentes demandas, sobretudo de média e alta complexidade

  • Para quem? Atendem situações que necessitam de acompanhamento contínuo, com equipes multiprofissionais. Há quatro Caps no município. O Caps Prado Veppo, voltado a adultos com transtornos graves; os Caps Caminhos do Sol e Cia do Recomeço, que atendem pessoas com transtornos decorrentes do uso abusivo de álcool e outras drogas; e Caps I, que é o único que necessita encaminhamento, sendo exclusivo a crianças e adolescentes
  • Como acessar? Atendem mediante encaminhamentos de PAs ou Unidades Básicas (UBS), de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h

Caps II - Prado Veppo

  • Avenida Helvio Basso, 1.245
  • Contato - (55) 3921-7959

Caps Ad II - Caminhos do Sol

  • Rua Euclides da Cunha, 1.695
  • Contato - (55) 3921-7144

Caps Ad II - Cia do Recomeço

  • Rua General Neto, 579
  • Contato - (55) 3921-1099

Caps i II - O Equilibrista

  • Rua Conrado Hoffmann, 100
  • Contato - (55) 3921-7218


Santa Maria Acolhe

Oferece serviço de acolhimento, com psiquiatra, dois assistentes sociais, dois enfermeiros e uma psicóloga

  • Para quem? Crianças e adultos
  • Como acessar? Via encaminhamento da UPA, PA do Patronato ou demais UBS. Policlínica do Rosário e Policlínica Central José


Erasmo Crossetti

Dois psiquiatras e cinco psicólogos realizam consultas nas duas clínicas.

  • Para quem? Crianças e adultos
  • Como acessar? Via encaminhamento judicial, ou de clínico geral em UBSs ou ESFs

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)
Rodas de conversa para compartilhar experiências e trazer discussões sobre a valorização da vida são fundamentais para a saúde mental, ainda que sejam de forma virtual

Programa de Atendimento Especializado Municipal (Praem)
O Praem está ajudando famílias no enfrentamento da pandemia do coronavírus e oferecendo auxílio educacional

  • Para quem? Crianças e adolescentes da rede municipal de ensino em vulnerabilidade social
  • Como acessar? Rua Conrado Hoffmann, 287, Bairro Nossa Senhora de Lourdes, ou entrando em contato pelo telefone (55) 3921-1096

UFSM, por meio da Coordenadoria de Ações Educacionais (Caed)
Atendimento remoto, por videochamada, individual semanal com psicólogo (psicoterapia), por até seis meses

  • Para quem? Estudantes que tenham vínculo com a UFSM
  • Como acessar? Aluno deve entrar em contato e pedir encaminhamento pelo e-mail [email protected] ou pelo facebook.com/caedufsm e a consulta será marcada

UFSM, pelo Setor de Atendimento Integral ao Estudante (Satie)
Oferece suporte emocional remoto durante o período de suspensão das atividades presenciais. Os atendimentos online acontecem via Skype de segunda a sexta-feira, das 14h às 18h. Também são promovidas oficinas online de escrita e literatura, ioga, meditação, teatro e karaokê e cursos intensivos de taekwondo e de dança contemporânea

  • Para quem? Atendimento para os moradores da Casa do Estudante Universitário (CEU)
  • Como acessar? Para receber atendimento via Skype o aluno deve buscar, no aplicativo, pelo usuário SATIE PRAE. Para as oficinas, basta seguir o Facebook, Instagram e o canal no Youtube

*Colaborou Gabriele Bordin

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